Pular para o conteúdo principal

Postagens

Artigo sobre Ricardito e fac-símile em PDF de "Ipês"

Mafuá , revista de literatura em meio digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicou um artigo de Samanta Rosa Maia sobre Ricardo Gonçalves, disponibilizando também uma cópia em formato PDF (fac-similar) de Ipês. O artigo e o PDF de Ipês estão disponíveis através do atalho abaixo: https://mafua.ufsc.br/2015/a-scisma-do-caboclo/ Boa leitura!
Postagens recentes

Ipês XLV. [Apêndice] Túmulo

TÚMULO Modesta cruz de pau numa clareira, Onde pipilem trêfegos sanhaços; Modesta, sim, mas que uma trepadeira, Para enfeitá-la, cinja-lhe os dois braços. E que eu repouse ali, na hospitaleira Sombra do bosque, livre de cansaços, Como quem, pelas horas da soalheira, Foge da estrada aos cálidos mormaços. Ei-lo, o túmulo simples que ambiciono Para deitar a carne fatigada, Para dormir o derradeiro sono. Como serei feliz no meu jazigo! Aves, flores, a mata embalsamada, E eu a dormir, eu a sonhar contigo... 1905 Ricardo Gonçalves Ipês , 1921, p. 147-148. Ortografia atualizada.

Ipês XLIV. [Apêndice] O Cigarro

O CIGARRO Fumo um cigarro, acompanhando atento As espirais macabras da fumaça, Que sobe para o teto, e se adelgaça, E perde-se afinal pelo aposento. E enquanto ulula, fora, a voz do vento, Seguindo o rendilhado que ela traça, No coração não sei o que se passa, Mas adormeço as mágoas um momento. Oh! quantos sonhos, quantas maravilhas O perfumado fumo das Antilhas Faz-me sonhar em noites hibernais! Dá-me de novo o que eu perdido havia, Dá-me de novo os sonhos e a poesia Daqueles tempos que não voltam mais. 1902 Ricardo Gonçalves Ipês , 1921, p. 145-146. Ortografia atualizada.

Ipês XLIII. [Apêndice] Historieta

HISTORIETA Quando a alma é todo um tesouro De ilusões, de sonhos belos, Erguendo airosos castelos, Amaste um príncipe louro! Como um pajem das baladas Era esbelto e sobranceiro, Tinha a altivez de um guerreiro E usava esporas douradas. Mas tu, radiosa criança, Com ele não foste à igreja, Pois que nunca a gente alcança Aquilo que mais deseja. E eu disse num tom profundo: ─ “Oh! devaneios cruéis! São muito raros no mundo Os príncipes e os donzéis. Donzel do louro cabelo, Áureo sonho de menina, Que nunca a sorte mofina Te converta em pesadelo!” Depois, tendo o peito em lavas, Amaste furiosamente Um dandy bem diferente Do príncipe que sonhavas. Mas o “leão” que era o mais lindo Mancebo da fina roda, Morreu mais tarde vestindo Um fato fora da moda. E eu disse num tom profundo: “Amai, amai, corações! Ao mundo das ilusões Não chegam vozes do mundo. Ó peralvilho modelo, Sonho de moça e menina, Que nunca a sorte mofina Te converta em pesadelo!” Pa

Ipês XLII. [Apêndice] Visão

VISÃO Na rósea nuvem de um sonho, Chegas. Minh’alma te vê... Mas, a visão doce e casta Rapidamente se afasta, Sem que tu saibas por quê... Foge... e logo sobre a alma Pesado manto de treva A dor estende minaz. E essa nuvem que te traz, A mesma nuvem te leva... Não quero que me visites, Meu descorado jasmim, Quando nesta luta insana, Feroz alcateia humana, Vocifera junto a mim... Mas só, no meu quarto, à noite, Fico instantes que nem sei... Haurindo o aroma celeste Das flores que tu me deste E dos beijos que te dei. 1899 Ricardo Gonçalves Ipês , 1921, p. 139-140. Ortografia atualizada.

Ipês XLI. [Apêndice] Só

SÓ Que noite, santo Deus! A espaços relampeja, E retumbam trovões. Colo o rosto à vidraça: Na rua cenagosa e triste ninguém passa, Atra melancolia o céu plúmbeo poreja. E eu, tão longe de ti... sozinho, no remanso Da alcova, enquanto fora estronda a tempestade, Sinto dentro do peito, a soluçar, de manso, Queixoso, o bandolim de uma estranha saudade!... 1904 Ricardo Gonçalves Ipês , 1921, p. 137. Ortografia atualizada.

Ipês XL. [Apêndice] Primeiro Amor

PRIMEIRO AMOR A asa que passa, num celeste arpejo, O nome teu repete, ó linda flor! E conta a história do primeiro beijo À luz do sol, ao doce aroma e à cor. Primeiro beijo do primeiro amor, Que acalentar as nossas almas veio, Mas, que partiu depois, partiu... Maldade, Maldoso amor! deixando-nos no seio O áspide venenoso, que é a saudade. A serpe venenosa e traidora Abandonou-me em lânguido repouso.                 Dorme agora Em nossos corações fartos de gozo. Porém, oh sim! há de acordar um dia, Quando sentirmos a asa do desejo Cantar numa celeste melodia A doce história do primeiro beijo. E então, nesse momento, a asa que passa, E a luz do sol, e o doce aroma, e a cor, Repetirão talvez com terna graça A louca história do primeiro amor. 1898 Ricardo Gonçalves Ipês , 1921, p. 135-136. Ortografia atualizada.